PRECIOSA – UMA HISTÓRIA DE ESPERANÇA
Título Original: Precious:
Based on the Novel Push bu Sapphire
Duração:
110 minutos
Gênero:
Drama
Direção:
Lee Daniels
EUA,
2009.
Preciosa - Trailer
“Preciosa”
é um filme que já emociona nos primeiros minutos. Preciosa, uma adolescente de
16 anos nos revela sua vida, seu sofrimento. Um relato rodeado de preconceitos,
abusos e violências, que a paralisam diante da vida. Ela se protege do mundo
com sua cara amarrada, seu peso e seu analfabetismo funcional. É um banho de
esperança! Mas também um tapa na cara! É bonito ver Preciosa encontrar-se e
abrir seu espaço no mundo.
Se você
não se importa com revelações sobre o filme, deixo abaixo uma boa análise do
filme “Preciosa”.
Sinopse: 1987, Nova York, bairro do Harlem. Claireece
"Preciosa" Jones (Gabourey Sidibe) é uma adolescente de 16 anos que
sofre uma série de privações durante sua juventude. Violentada pelo pai (Rodney
Jackson) e abusada pela mãe (Mo'Nique), ela cresce irritada e sem qualquer tipo
de amor. O fato de ser pobre e gorda também não a ajuda nem um pouco. Além
disto, Preciosa tem um filho apelidado de "Mongo", por ser portador
de síndrome de Down, que está sob os cuidados da avó. Quando engravida pela
segunda vez, Preciosa é suspensa da escola. A sra. Lichtenstein (Nealla Gordon)
consegue para ela uma escola alternativa, que possa ajudá-la a melhor lidar com
sua vida. Lá Preciosa encontra um meio de fugir de sua existência traumática,
se refugiando em sua imaginação.
Prêmios
Em 2010:
Conquistou os Oscars de Atriz Coadjuvante
(Mo'nique), Roteiro Adaptado e foi indicado aos de Direção, Edição, Melhor
Filme e Melhor Atriz (Gabourey Sidibe);
Conquistou o Bafta Film Award de Melhor Atriz Coadjuvante (Mo'nique)
e foi indicado aos de Melhor Filme, Atriz (Gabourey Sidibe) e Roteiro Adaptado;
Conquistou o Globo de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante (Mo'nique) e
foi indicado aos de Melhor Filme de Drama e Atriz (Gabourey Sidibe);
Indicado ao MTV Movie Award de Melhor Revelação (Gabourey
Sidibe)
Análise do Filme “Preciosa”
Escrito
por Flora Fernandes Lima
A relevância do tema deve-se a importância
imprescindível, para os profissionais que lidam com o direito e/ou a
psicologia, de conhecer os fatores relacionados à forma como se constrói a
dinâmica familiar em um contexto doente, para o qual a sociedade tenta fechar
os olhos e assim buscar compreender como a história de vida, o contexto
social e a família são importantes na estruturarão de uma personalidade.
Contextualização do Filme:
Preciosa
O Filme retrata o drama social da Jovem
Claireece Precious Jones. Desde já pode-se afirmar que o filme
“Preciosa” não é uma obra de ficção qualquer e sim um retrato que pode vir a
aplicar-se como roteiro real em diversos lares, nos quais crianças e
adolescente são, constantemente, colocadas em situações de extrema desqualificação
e marginalizadas, além de frequentemente expostas à violência sexual, física e
psicológica
Precious é uma adolescente de 16 anos de idade
que é expulsa da escola no início de sua segunda gestação. Ainda, nas
cenas iniciais coloca-se claramente no filme que Precious é
possuidora de uma imaginação muito frutífera. Ela sonha, por exemplo, que seu
professor é apaixonado por ela e que irão morar juntos. Tal imaginação
mostrar-se-á como um dos mecanismos de defesa e grande parte da fonte de sua
forte resiliência para a difícil estrutura familiar na qual se encontra
inserida.
No ambiente domestico Precious vive com
sua mãe que se mostra extremamente desequilibrada psicologicamente e portadora
de características que poderiam ser atribuídas à uma estrutura boderline de
personalidade. No enredo do filme aos poucos vai sendo evidenciado que o filho
que está esperando é resultado de uma relação incestuosa com o seu Pai. Das
relações de violência sexual às quais Precious é submetida desde os
três anos de idade podem provavelmente originar-se as motivações para
negligência por parte da mãe a qual nutre um ódio doentio contra a filha, pois
acredita que a adolescente desde criança seria concorrente nas relações sexuais
com o Pai.
Ao ser excluída de sua escola Precious é
matriculada em uma escola alternativa para garotas com problemas sociais.
Lembrando que a adolescente, além de encontrar-se grávida pela segunda vez, era
praticamente uma analfabeta funcional.
A mãe de Precious é uma pessoa que se
mantêm de forma parasitária dos benefícios do Estado que são garantidos à
adolescente e à sua primeira filha, uma menina com síndrome de Down,
apelidada de “mongo”.
Ainda, no contexto familiar
de Precious encontramos, mesmo que de forma bem rápida, a figura de
sua avó materna, uma pessoa que se mostra como sendo a representação do amor,
carinho e segurança e que cuida da primeira neta, sem no entanto, ter força
suficiente para acolher Precious.
O segundo ambiente apresentado no filme é a sala de
aula da escola alternativa. Local em que a personagem principal tem a
oportunidade de pensar e apropriar-se de sua realidade tendo como facilitadora
uma professora que presta acompanhamento individual às dificuldades oriundas da
história de vida das alunas tutoreadas.
Pode-se afirmar que esse suporte social fora o
alicerce para a reorientação da história de vida de Precious dando-lhe os meios
e encaminhamentos necessários para que reorganizasse e se instrumentalizasse
para enfrentar sua realidade que além de dificuldades uma dura dinâmica
familiar incluía analfabetismo funcional, desemprego, baixa autoestima, AIDS,
dois filhos para sustentar. Todos esses fatores alicerçados em uma
personalidade que inicialmente estava completamente imersa nas situações
traumáticas das quais revitimizava-se constantemente, como os abusos sexuais
por parte do pai por exemplo.
O golpe que o Filme Preciosa nos proporciona vem
como um terremoto que faz desmoronar as falsas fantasiais criadas ligadas ao
ambiente familiar como a célula da sociedade, local de acolhimento, amor e
carinho. Tudo que não é percebido, ou melhor, é negado a Precious.
A face grotesca das relações familiares apresentada
durante o filme nos faz refletir o quanto pode ser aterrador alguns ambientes
familiares. Ao se buscar em nossos ordenamentos jurídicos algumas Leis mais
recentes que serviriam como amparo para situações nas quais ocorressem
violências como as descritas pela história poderia citar-se o Estatuto da
Criança e do Adolescente e Lei Maria da Penha. O Estatuto, caso realmente fosse
obedecido, teria papel imprescindível para a prevenção de situações como estas
e a consequente quebra de todo um ciclo da violência e a Lei Maria da Penha
como mecanismo e meio reparador para a situação de violência já instaurada.
A proteção estatal não foi capaz de garantir
a Precious seu direito “à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência,discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” como
determina a nossa carta magna em seu artigo 227.
Conclusão
O filme é muito chocante, pois nos remete a uma
realidade que se esconde em vários lares: o abuso sexual infantil. O mais chocante
é que apesar de ser uma obra de ficção retrata com fidedignidade esta cruel
realidade deixando-nos, a princípio, de mão atadas frente a esta violência que
ocorre em muitas famílias.
O horror do incesto, desamor materno e a grande
resiliência da adolescente são marcantes e a reflexão oriunda da obra nos faz
imaginar a possibilidade de tais cenas poderem estar se passando em cenários
reais nesse exato momento.
Os mecanismos de prevenção e proteção social, tais
como leis e órgãos personificadores destas leis (como aqueles oriundos da
assistência social, por exemplo) brilham como aparentemente o meio mais
viável para uma tentativa de evitar que tais cenas continuem acontecendo. Em
curto prazo poder-se-ia citar a importância da atuação de órgãos responsáveis
por sanar os estragos já deixados na teia de vida dessas pessoas como os CREAS
(Centro de Referencia Especializada da Assistencia Social) , por exemplo.
Contando com uma atuação por um período maior de tempo os CRAS (Centro de
Referência da Assistência Social) e outros órgãos responsáveis por promover
meios para o empoderamento de qualidade de vida e defesa dos próprios direitos.
A atuação desses órgãos deve vir alicerçada, no
entanto, pela compreensão de que um problema social nunca é um problema social isolado
e afeta a comunidade como um todo...
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