The Sessions (2012)
Gênero: Comédia, Drama, Romance
Origem: Estados Unidos - 98 min.
Direção: Ben Lewin
Roteiro: Ben Lewin, Mark O'Brien
As Sessões - Trailer Oficial Legendado
Sinopse: 'As Sessões', inspirado nos escritos autobiográficos do
jornalista e poeta Mark O'Brien,
conta a história de um homem que viveu a maior parte de sua vida em um pulmão
de ferro e está determinado - aos 38 anos - a perder sua virgindade. Com a
ajuda de seu terapeuta e a orientação de seu padre, ele se propõe a tornar seu
sonho uma realidade.
“Só sinto vergonha e humilhação onde outros parecem ter prazer”.
Corpo
paralisado (pela poliomielite) e Mente ativa. Assim é O’Brien, um escritor de 38 anos cheio
de coragem e perseverança. A sua deficiência não o impede de ter humor nas
adversidades. É uma lição de vida.
O
filme “As sessões” mostra a trajetória sexual de O’Brien. Retrata os jogos de
poder, os incômodos ao se falar no tema sexo – a sexualidade do deficiente,
principalmente. Ele vai do padre ao terapeuta, e vice-versa. Sua vida sexual
começa no discurso até chegar ao intercurso.
As
conversas com o padre me lembraram os estudos de Foucault sobre a história da
sexualidade. A confissão com o intuito de transformar o desejo do ato em desejo
da palavra, do discurso. O desejo sexual é deslocado para o discurso, a
palavra, tornado, assim, o discurso essencial. Dessa maneira, o confessionário
católico torna-se um dos principais meios de controle da vida sexual dos fieis.
A regulação do sexo pelo discurso, pela determinação do onde, como e quem
discursa e não pela proibição. Inclusive a postura do padre é de viver e não de
proibir.
Assim,
o filme é uma grande aula de sexualidade humana. E quanto as dificuldades de
O’Brien? As mesmas de quem não tem deficiência – Dificuldades de
relacionamento, ejaculação precoce, carência emocional, ansiedade de
desempenho.
Vale
lembrar que a terapia sexual visa o
bem estar sexual, contribuindo para uma maior satisfação do homem, da mulher e
do casal. É um processo terapêutico em que a pessoa, ou o casal, que tem
dificuldades na área sexual encontra auxílio para obter satisfação e crescimento
no envolvimento relacional.
Nunca
é demais lembrar que no processo de terapia sexual não se pratica, nunca,
qualquer atividade sexual no consultório ou em qualquer outro ambiente com o(a)
Terapeuta Sexual. O paciente somente terá atividades sexuais com seu (sua)
parceiro (a). No Brasil o Conselho Federal de Psicologia veda a relação sexual
entre paciente e terapeuta.
Deixo
aqui algumas reportagens da Folha de São Paulo que falam sobre o filme e as
discussões éticas:
Terapia
mostrada em filme inclui sexo entre profissional e paciente
Iara Biderman - de São Paulo
A pessoa tem um problema sexual e vai fazer terapia
para tentar resolver. Um dia, o psicólogo propõe a ela algo mais prático:
sessões com um "terapeuta sexual substituto", profissional que vai
para a cama com o paciente.
Pouco difundida, essa técnica do sexo explícito
começa a ser mais conhecida. O motivo é o filme "As Sessões", que
estreou aqui na sexta.
Premiado no Festival Sundance de Cinema de 2012, o
longa fez de Helen Hunt candidata ao Oscar de melhor atriz coadjuvante de 2013. Hunt interpreta Cheryl Cohen Greene durante terapia sexual com o poeta Mark
O'Brien (John Hawkes), paralítico.
Aproveitando o sucesso do filme, Greene lança
seu livro “As Sessões: Minha Vida como Terapeuta do Sexo" BestSeller, 280
págs., R$ 29,90), em que conta sua história e a de vários outros clientes, além
de O'Brien.
Virgem aos 38 anos, O'Brien acaba aprendendo
com Greene a manter suas ereções espontâneas, a penetrar uma mulher (ela) e a
levá-la ao orgasmo.
Essa modalidade terapêutica foi criada nos
anos 1960/1970 pelo casal de sexólogos americanos William Master e Virgínia
Johnson, os primeiros a preconizar um tratamento exclusivamente sexual.
"Eles passaram a tratar dificuldades sexuais com terapia comportamental,
usando as terapeutas substitutas para 'treinar' o paciente a fazer sexo",
diz a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do programa de estudos de
sexualidade da USP.
Após a revolução sexual, surgiram outras
técnicas, e a do substituto sexual não ficou entre as mais valorizadas.
QUESTÕES ÉTICAS
"Do ponto de vista teórico é
interessante, mas na prática incide em uma série de questões. É fácil de
executar? Não. É eficiente? Não temos dados. E levanta muitas dúvidas
éticas", diz Abdo.
"Sexo entre terapeuta e paciente ocorre
mais do que imaginamos. É danoso: a pessoa depositou confiança no profissional
e fica à mercê dele. É quebra de contrato", diz Araceli Albino, presidente
do Sindicato dos Psicanalistas do Estado de São Paulo.
O CFP (Conselho Federal de Psicologia) veda
relação sexual entre terapeuta e paciente. Nos EUA, o trabalho do substituto
sexual é legal, desde que indicado e supervisionado pelo profissional de
psicologia que conduz a terapia verbal com o cliente.
A relação "terceirizada" teria
vantagens. Para Abdo, se a terapia com o substituto sexual for bem conduzida,
poderá evitar que o paciente fique dependente do terapeuta e prepará-lo para
fazer sexo satisfatório com outros.
"Se a terapia sexual com o substituto
for escolha do paciente e ele continuar a terapia verbal, vai conhecer melhor
seu corpo sem deixar de trabalhar o psiquismo. O avanço pode ser maior do que
ficar só falando", diz Albino.
O método é "temerário" para Aluízio
Lopes de Brito, secretário de ética do CFP: "Tirar bloqueios sexuais é
bom, mas desperta um mundo de emoções na pessoa e ela terá que lidar com
isso".
SEXO DE RESULTADOS
A terapia que acaba na cama retratada no
filme "As Sessões" e no livro de Cheryl Greene está distante
conceitualmente de terapias que incluem o contato físico.
"Trabalhamos o corpo que pensa, faz
vínculo, tem história. Para tratá-lo não precisa ser tão concreto, pegar,
manipular, transar", diz a terapeuta Regina Favre, de São Paulo. Favre é
da primeira geração da terapia do corpo no Brasil, um grupo que experimentava a
força libertadora do sexo nos tempos da revolução sexual.
"Era libertador na década de 1970, não é
mais. O problema, hoje, é que a pessoa quer ser perfeita, quer ter um bando de
gente achando que ela é um tesão. Daí cria-se mercado para isso. E a técnica da
terapeuta sexual substituta é um produto desejável."
Um produto, porque vende a sexualidade
desejada como uma questão técnica, segundo o psicólogo carioca João da Mata, da
Universidade Federal Fluminense.
Seguidor do alemão Wilhem Reich (1896-1957),
Da Mata diz que as terapias de origem reichiana não são direcionadas da mesma
forma que as sessões de Greene.
"Eu não diria que o ato sexual é
terapia, mas que é terapêutico: tem capacidade de transformar, mobilizar a
energia vital. Podemos trazer essa experiência com o contato corporal, a troca
emocional."
Para ele, o interessante da terapeuta sexual
substituta é "mostrar a importância da sexualidade inclusive como fonte de
saúde física".
Segundo Favre, "pode ser saudável e
gerar bem-estar, mas tratar o ato sexual como um procedimento médico é
mecanicista e simplificador".
"A terapeuta substituta é vista como uma
fisioterapeuta que vai colocar um ombro no lugar, uma fonoaudióloga que vai
treinar alguém para parar de gaguejar, uma enfermeira carinhosa que não sente
repulsa do paciente", diz.
Só que não. "Nessas sessões de terapia
sexual, por trás do prazer genital, tem uma pessoa, que está sendo estimulada.
E isso vale para os dois lados, terapeuta e paciente. Não dá para ter um
distanciamento que garanta o não envolvimento pessoal."
'Fiz
sexo com mais de 900 pessoas', diz terapeuta americana
Iara Biderman - de São Paulo
A terapeuta que inspirou a personagem de Helen Hunt
no filme "As Sessões" vive em Berkeley, na Califórnia, com o marido,
um ex-paciente.
Aos 68, Cheryl Cohen Greene continua o trabalho que
iniciou há 30 anos: atender clientes com impotência, ejaculação precoce ou
limitações que dificultam o sexo. Em seu livro, “As Sessões: Minha Vida como
Terapeuta do Sexo”, que chega esta semana às livrarias brasileiras, ela conta
que teve mais de 900 parceiros sexuais.
À Folha, Greene diz como ajuda seus clientes
e como entrou na profissão, que muitos consideram prostituição. "Ir a uma
prostituta é como ir a um restaurante, escolher no cardápio e ser servido pelos
funcionários, que esperam que você volte. Ter sessões com a terapeuta sexual
substituta é como ir a uma escola de culinária: você descobre onde achar
ingredientes, aprende receitas e sai fazendo pratos por conta própria."
*
Folha - Como você se tornou "terapeuta sexual
substituta?"
Cherryl Cohen Greene - No início dos anos 1970 eu
morava na Califórnia, no centro da revolução de costumes nos EUA. Ganhava um
dinheiro como modelo-vivo, posando nua, quando soube desse trabalho. Conversei
com meu marido na época. Vivíamos um casamento aberto, eu já tinha tido vários
parceiros sexuais e ele também. Ele apoiou minha decisão.
O que é preciso fazer para ser esse tipo de
terapeuta?
Um curso. Tem quem ache que só por ser bonita e ter
tido muitos parceiros pode oferecer o tratamento. Mas ajudamos pessoas que têm
dificuldades --não conseguem ter ereção ou orgasmo, nunca fizeram sexo.
Precisam de alguém aberto, amoroso e sensível em quem confiem para aprender a
superar.
Como é feito o trabalho?
São oito sessões, em cada uma há experiências
diferentes, não só sexuais. Ajudo a pessoa a relaxar. Ao tocar um cliente pela
primeira vez não quero que pense na ereção. O ponto é fazer com que se conheça
e se abra ao prazer.
Há protocolo dessa terapia?
Sim. Foi desenvolvido pelo casal Master e Johnson.
Trabalhamos com um terapeuta convencional, que não tem contato físico com o
paciente (prefiro chamar de cliente).
É o terapeuta convencional que nos indica. Após a
sessão, fazemos um relatório para esse terapeuta.
Na primeira sessão ensino o cliente a relaxar e
massageio seu corpo inteiro. Na seguinte, o cliente me massageia e eu o
conduzo, mostrando do que gosto ou não. Depois vem o exercício com o espelho, a
pessoa se olha nua. Daí começam carícias mais íntimas, ensino a manter a ereção
por mais tempo, a penetrar uma mulher de forma mais prazerosa para ela.
Como você encara o sexo sem envolvimento afetivo?
Tudo o que é consensual entre adultos é válido. O
lindo do meu trabalho é que você não precisa se apaixonar, mas tem que se
tornar íntimo da pessoa e respeitá-la. E é lindo saber que 85% conseguem uma
vida sexual satisfatória depois das sessões.
Como evita que o cliente se apaixone por você?
Conto detalhes da minha vida privada a ele, digo
que sou casada e feliz. Isso já diminui as expectativas.
E se você se apaixonar?
Já aconteceu. Estou casada com ele há 32 anos. Bob
me procurou depois que terminaram as sessões. Na segunda vez que saímos já
fizemos sexo fora do "consultório".
O que ele acha desse trabalho?
Eu nem me apaixonaria se ele não aprovasse o que
faço. Quando lhe perguntam, ele diz que sabe o que fiz por ele e o que posso
fazer para melhorar a vida de outros.
É outro casamento aberto?
Não. O amor é uma coisa, o trabalho é outra. Guio o
cliente, ensino. Faz parte da terapia eu mesma ter orgasmo. Muitos precisam
saber que são capazes de fazer isso. Para mim, termina ali.
Você ainda trabalha?
Tenho três clientes. Quando comecei, atendia dez
por semana. Vivemos uma onda conservadora, há menos gente fazendo. Espero que
com o filme e o livro mais gente se interesse pelo trabalho.
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