Apresentado na 5ª. Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, no CCBB, em Brasília, em 23 de novembro de 2010, o filme XXY é de uma rara sensibilidade ao revelar o drama de quem vive a ambiguidade da síndrome de Klinefelter.
Assim, o filme da aclamada diretora Lucía Puenzo trata de uma ambiguidade sexual e da simbologia que a reveste. Os bonecos. As fotos. Os desenhos. O próprio nome da personagem gera ambiguidade. Alex, no Brasil, pode ser nome tanto de menino quanto de menina. Bem como sua aparência andrógena (unissex).
Por ser um filme realista, é difícil assisti-lo. A mim me causou angústia e um tremendo respeito. Fiquei imaginando se não é simples passarmos pela “perdida” sexualidade na adolescência – Alex tem 15 anos –, tendo de lidar com nosso crescimento sem haver anomalia sexual, como será sendo “diferente”?
Outra dificuldade é lidar com um "final ainda não feliz". Pois, mesmo com as descobertas vividas no filme, sabemos que ainda existirão diversos desafios a serem superados na vida de Alex.
O depoimento de um outro personagem, que também tem a síndrome e vive bem, traz um pouco mais de conforto para o pai, Kraken (o fantástico Ricardo Darín).
O filme aborda também a questão da homossexualidade masculina. Mas nada supera os mistérios da ambiguidade. Seja pela nudez, pelos olhares, o silêncio, o não dito, o luto, a recusa da medicação. A fantástica elaboração na projeção em seus desenhos.
Por fim, o filme aborda um tema de difícil compreensão, não apenas física, mas também psicológica. Causa tristeza, angústia. E nos faz questionar a biologia como destino.
Alguns símbolos ligados à problemática sexual abordada no filme:
- O aquário de peixes anêmonas ou peixes-palhaço: é uma espécie que curiosamente possui a capacidade de alternar seu sexo.
- A tartaruga marinha: tem a pata cortada – referência simbólica à castração.
- Kraken (nome do pai de Alex, biólogo): é o nome de uma espécie de lula ou polvo gigante que naufragava barcos das mitologias antigas causando medo nos pescadores – a vila onde moram no Uruguai é de pescadores.
- Alex: curiosamente no Brasil pode ser nome masculino ou feminino, nasceu com as características sexuais de ambos os sexos.
Falas que me marcaram:
“Não são operações: é uma castração”.
“- Explique me... Você não é....
- Sou as duas coisas.
(...)
- Mas você gosta de homens e de mulheres?
- Não sei.”
Trocando em miúdos: Síndrome de Klinefelter X Hermafroditismo
O Hermafroditismo é uma anomalia sexual. Configurado por um distúrbio morfológico e fisiológico das gônadas sexuais de um indivíduo, que simultaneamente manifesta estrutura tecidual testicular e ovariana. A tendência do hermafroditismo é o aparente aspecto externo da genitália masculina, quando coexistentes testículo e ovário. Nas demais situações, a genitália possui aspectos femininos.
A Síndrome de Klinefelter afeta exclusivamente o sexo masculino, manifestando-se portador de dois cromossomos sexuais X e um Y (47,XXY), visto que o normal é a presença de um X e um Y (46,XY). Por isso desenvolvem testículos menores e produzem menos testosterona na juventude, o que pode lhes dar aspecto feminino.
- Para saber mais -
livros relacionados ao tema:
Menino ou Menina? Os distúrbios da diferenciação do sexo
Gil Guerra Juniro
Ed Manole, 2002
Sexo Trocado
John Colapinto
Ediouro, 2001
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